“And the light crept up between the shutters, And you heard the sparrow in the gutters.”
T.S. Eliot
Palavras. At the Soundless Dawn (ATSD), a estreia do Red Sparowes, está recheada de palavras sem ter uma única palavra dita. Confuso? Nada disso. ATSD é totalmente instrumental mas é inteiramente feito de poesia, sendo que os nomes das faixas estão ali para ajudar à visualização e à leitura do ouvinte, como se, efectivamente, de um poema se tratasse: “Alone and Unaware, the Landscape was Transformed in Front of Our Eyes”; “Buildings Began to Stretch Wide Across the Sky, And the Air Filled with a Reddish Glow”; “The Soundless Dawn Came Alive as Cities Began to Mark the Horizon”; “Mechanical Sounds Cascaded Through the City Walls and Everyone Reveled in Their Ignorance”; “A Brief Moment of Clarity Broke Through the Deafening Hum, But It Was Too Late”; “Our Happiest Days Slowly Began to Turn into Dust”; “The Sixth Extinction Crept Up Slowly, Like Sunlight Through the Shutters, as We Looked Back in Regret”. Existirá alguma banda com títulos maiores para os seus temas? Títulos compridos são o verdadeiro horror dos radialistas, mas isso é um aparte.
As leituras de ATSD são intermináveis mas segundo a banda (que reúne membros dos Isis, Neurosis e Angel Hair) centra-se num tema apocalíptico: existiram já cinco eventos de extinção maciça, de causa natural, em que 19 a 54% das espécies terrestres se extinguiram. No presente vivemos a sexta onda de extinção, a primeira causada por uma única espécie – a humana. E é aqui que entra o sparrow (pardal) que geme na latrina, segundo o grande poeta T.S. Eliot, outra colossal influência do grupo, como se pode constatar no nome do sétimo tema.
Não é raro vermos nos telejornais casos de centenas de pássaros que apareceram mortos sem razão aparente nos Estados Unidos, mas felizmente os pássaros que se ouvem no início de ATSD ainda chilreiam alegremente – a não ser que os minutos de silêncio do último tema sejam em honra deles e aí assim, tudo se encaixa dramaticamente. Mas como poema musical que é, ATSD não é para ser escutado enquanto que se vê televisão ou se executam meras tarefas caseiras. Ele requer atenção, dedicação e carinho.
Naquela hora em que a luz começa a penetrar na persiana e em que deixamos o quotidiano para trás, acordando para nós próprios e para a essência da nossa existência – aí sim – ATSD encontrou abrigo e descobriu o seu momento. Se o teu espírito precisar de ir a algum lado, fecha os olhos e percorre estradas infindáveis, voa sobre verdes mares e montanhas escarpadas até ele se esquecer de si. Nunca mais invejará as aves que levam o espírito no seu voo. Então, nesse momento, saberás ler um livro sem palavras e escutar uma música silenciosa. |João Moura
Infelizmente, por motivos pelos quais somos totalmente alheios este vídeo pode já não estar disponível. Se for o caso aceita as nossas desculpas e informa-nos se possível. Obrigado!