De que se trata este álbum? De uma compilação de músicas gravadas em ambiente doméstico, lados B e atuações ao vivo que, até ao momento, apenas tinham sido revelados numa edição de luxo, denominada With The Lights Out. É uma espécie de arca do tesouro. Aquela que todas as crianças imaginam estar escondida no lugar mais recôndito do seu sótão e que fingem encontrar em explorações faz de conta nos dias mais chatos das férias de Verão.
Imaginem que os quatro longa duração dos Nirvana (Bleach, Nevermind, Incesticide e In Utero) são o hall de entrada da casa de Kurt Cobain. Estão a ver? Pois bem, então o CD que vos apresento é o quarto do vocalista dos Nirvana, o mais íntimo recanto da sua intimidade. O lugar onde sonha, o lugar onde chora, o lugar onde tem pesadelos e procura inspiração. O lugar onde é ele mesmo, genuíno. Longe das luzes da ribalta.
A capa, escolhida pela filha de Kurt Cobain, Frances Bean, e por Courtney Love, representa um monte de cassetes, inseridas numa caixa de papelão. Algumas dentro da caixa bem acomodadas, outras espalhadas pelo chão, mal tratadas.
Neste conjunto de 22 músicas, muitas delas ficaram guardadas a sete chaves durante anos, depois da morte de Kurt Cobain. Destaque para ‘Sappy’, faixa que na minha opinião poderia ter sido um dos singles dos Nirvana. As grandes bandas são mesmo assim. Surpreendem-nos com a obra publicada e voltam-nos a surpreender com o que é dado a conhecer depois do seu fim. Com os escritores é a mesma coisa. Quem seria Fernando Pessoa se as editoras não fossem ao baú buscar o que o poeta nunca quis revelar em vida?
‘Spank Thru’, música dos Fecal Matter, primeira banda de Cobain, ‘Clean Up Before She Comes’, ‘Blandest’ e ‘Opinion’ completam o rol de uma espécie de best of dos lados B dos Nirvana. Vemos muita experimentação, enganos, sons distorcidos, barulhos estranhos. Para muitos, mais do mesmo. Para mim, a cereja no topo do bolo que confirma o grande legado de uma das bandas mais influentes do planeta. |Bruno Tomé
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