Durante décadas falou-se de Guerra Fria. Dividimos o mundo em democráticos e comunistas e tememos a iminente destruição. Estudamos na escola a crise dos mísseis de Cuba. Fomos bombardeados de filmes e séries sobre a ameaça nuclear e até impedimos o cataclismo em Metal Gear Solid. Ouvimos nas notícias a toda hora as intenções iraquianas, iranianas e coreanas. Ficamos fartos até às orelhas deste assunto, e, no entanto, a bomba parece que nunca mais arrebentou. O mais próximo que estivemos da destruição foi em 2005, quando os Low lançaram The Great Destroyer (2005). Curioso como uma banda tão calma, apelidada de slow core, conseguiu ser tão destruidora – se calhar a destruição mais poderosa está dentro de nós e é despoletada pelos aparentemente inofensivos sentimentos.
No inicio desta destruição por implosão está “Monkey”: um dos melhores tema de abertura de sempre, com uma percussão épica do começo ao fim, com riffs e um órgão profundos, a fazerem o coração bater mais rápido e o sangue ferver instantaneamente: “Tonight you will be mine, tonight the monkey dies” exclama Alan Sparhawk, e parece tão decido a cometer o crime que nós próprios o ajudamos se for necessário. Depois vem o aconchego de “California”, o primeiro single do disco, que fala sobre a mãe de Sparhawk, que tem de vender a sua quinta e rumar à California onde faz mais calor. “Everybody’s Song” retoma a pujança de “Monkey” e “Silver Rider” é o tema mais tradicional do álbum, com as subtis vozes de Alan e Mimi Parker a sussurrarem-nos no nosso íntimo. “Just Stand Back” deixa os raios de sol entrarem pela janela do quarto e o belo “Cut The Strings” com a sua aura electrónica está à altura de outros trabalhos que o produtor deste disco, Dave Fridmann, fez com os Flaming Lips e Mercury Rev. Este é um dos pontos chave a realçar: saltando de produtor em produtor e de editora em editora (este foi o primeiro disco pela histórica Sub Pop), os Low, ora mais minimalistas ora mais ornamentados, soam sempre a eles próprios e nunca falham ou desapontam. Em The Great Destroyer os Low deram um pequeno grande passo no seu som – ouça o épico “Broadway (So Many People)” – e há nele temas tão diversificados (cada tema parece contrariar o anterior) que se torna fácil agradar a gregos e troianos.
Se há um ponto comum em The Great Destroyer, ele é o envelhecer e a dor proveniente de o recebermos em nossa casa. “When I Go Deaf” e “Death of a Salesman” são a prova disso. Fica a ideia que o grande destruidor por aqui afinal não são as armas de destruição maciça, como tanto nos querem apregoar, mas sim, simplesmente, o tempo, que não deixa ficar nada para trás. Mesmo que não haja mais explosões atómicas teremos sempre de prestar contas ao senhor destruidor tempo. No entanto, se aprendemos alguma coisa nos filmes é que normalmente há um final feliz, e “Walk Into The Sea” é dos finais mais bonitos que já alguma vez ouvimos.|João Moura
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