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Lágrimas de crocodilo? Não! Se Alligator der para chorar esse choro é de felicidade, com lágrimas reais. Ele dá para chorar nos dois sentidos. Ele tem momentos mais solitários e poéticos, mas o seu tom geral é de libertação e euforia, mesmo que essa exaltação seja decorrente do facto de se perder o que mais se estima, ou de se lembrar o que uma vez se foi e agora já não (“I used to be carried in the arms of cheerleaders” ouve-se por exemplo em Mr. November).
Se por um lado temos os lamentos à volta da garrafa (“break my arms around the one I love” e “I’m so sorry for everything” em Daughters Of The Soho Riots e Baby, We’ll Be Fine, já para não falar no alcoolismo mórbido de All The Wine), por outro temos os urros de Abel, a libertação do sangue mau de Lit Up, ou a alegria de organizar uma reunião secreta na cave do próprio cérebro, em Secret Meeting.
Faca de dois gumes, Alligator corta com precisão as dores do coração e expõe as mesmas numa bandeja de canções prodigiosas, que dão vontade de cantar bem alto. Há uma energia primitiva irresistível em Alligator, e as histórias de Matt Berninger cativam o ouvinte muito facilmente. De solidão a amores perdidos e cruzados, de materialismo a memórias do passado, a poesia citadina deste trabalho consegue afectar o ouvido de quem as escuta e consegue ressaltar lá dentro no seu pensamento. Mais, ela não vem em doses lamechas mas sim ornamentada em humor e metáforas que denotam a raiva e a insatisfação de um modo mais agradável que grande parte da restante comunidade indie.
Estas canções fatalistas foram escritas para todos mas venderam pouco mais de 200 mil discos pelo mundo fora. Mesmo assim conseguiu ser nomeado para o álbum do ano em várias publicações e considerado um dos melhores da década em tantas outras. Ele concedeu cada vez mais visibilidade à banda, e fez sobretudo com que os seus concertos ficassem lotados muito facilmente, quer em digressão com os Clap Your Hands Say Yeah e os Editors, ora em nome próprio.
Nunca é tarde para conhecer o cheiro e a rugosidade da pele de Alligator, uma obra feita com o amor de família (entre os irmãos Aaron Dessner, Bryce Dessner e Scott Devendorf, Bryan Devendorf, além de Matt Berninger). Se estes parágrafos não foram suficientes para te por a ouvir Alligator é melhor mesmo ficar por aqui. Quanto a mim vou já escutá-lo, mais uma vez. |João Moura
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