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Antony and the Johnsons : I Am a Bird Now

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Antony Hegarty tem qualquer coisa de diferente. Muita coisa de diferente, dirão alguns. O certo é que ouve-se o tema inicial Hope There’s Someone e ficamos logo com o coração mirradinho, apertadinho. “Hope there’s someone who’ll take care of me, when I die, will I go? Hope there’s someone who’ll set my heart free, nice to hold when I’m tired.” Solidão? Insónias? Velhice? Morte? Fantasmas? Um visto neles todos. Até o cântico de Antony é fantasmagórico, acompanhando o devaneio das teclas do piano.

É de dor que este tema fala, do medo da morte, de noites solitárias passadas em branco, tal como a imagem do disco, onde uma mulher ainda vestida e rodeada de flores se esperneia na cama, como se tivesse acabado de tomar uma dose elevada de comprimidos: o Óscar de melhor drama para este tema/filme se faz favor.

Por vezes chegamos a casa à noite cansados do trabalho e da existência e caímos no sofá. Às vezes adormecemos mesmo ali, vestidos, e acordamos com o barulho da televisão pela manhã cedo. Quando vamos para a rua o mundo pesa mais um pouco nos ombros do que é normal. A chuva cai só na nossa cabeça. Com mais força. E se nos deixarmos levar na enxurrada estamos perdidos de vez.

É disto que I Am a Bird Now trata. Da dor de existir. Man is the Baby, ou What Can I Do?, com Rufus Wainwright, reflectem sobre a morte, numa vida que não dá instruções de como ser usada, nem como lidar com a morte que se lhe segue: “Set my spirit free”, “Mama, help me to live”.

Lou Reed também entra em palco, recitando poesia e tocando guitarra em Fistfull of Love. E por mais nomes que se juntem à festa – Boy George (Culture Club) no dueto soul de You Are My Sister, e Devendra Banhart que abre a cena em Spiralling – a verdade é que o espectáculo é todo de Antony, com toda a sua graça e leveza.

É um homem? É uma mulher? É um pássaro? Não sabemos dizer. É uma alma que tenta ser livre – I’m Free at Last ouve-se perto do final do disco – uma alma que procura ganhar asas e fugir à sua gaiola.

Apesar de toda a tragédia incluída nestes actos, o álbum também contém momentos sorridentes (For Today I Am a Bouy, Fistfull of Love, Spiralling, My Lady Story) e o seu final é dos felizes. É ouvir Bird Guhl, o acto final, para tirar as dúvidas: “I’ve been searching for my wings some time, I’m gonna be born into soon the sky, ’cause I’m a bird girl and the bird girls can fly”. E tudo o vento levou. |João Moura

 

Infelizmente, por motivos pelos quais somos totalmente alheios este vídeo pode já não estar disponível. Se for o caso aceita as nossas desculpas e informa-nos se possível. Obrigado!


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