Explosions in the Sky! Boards of Canada! Estes nomes dizem-vos algo? Se sim, e agora que a vossa atenção ficou fixada neste texto, chegou a altura de falarmos um pouco sobre coincidências e acasos, pois é disso mesmo que Hammock se trata – uma coincidência da qual o facto de existir não é mais que um acaso. E Kenotic, o disco de estreia deste duo, não é mais do que uma celebração disso mesmo.
Kenotic poderia nunca ter vindo a existir, mas o destino ditou que fosse o culminar de uma série de experiências e improvisos de Marc Byrd e Andrew Thompson, mentores de Hammock, que se juntavam durante os intervalos dos seus projectos principais para ‘deitarem para fora’ o que lhes ia na alma. O resultado é um disco de post-rock ultra atmosférico, por vezes a puxar para o contemplativo e que exige ser ouvido em paz, especialmente em dias de chuva.
Também não menos coincidentemente, Kenotic parece reflectir uma inspiração oculta no universo do realizador sueco Ingmar Bergman: títulos como Through a Glass Darkly, Winter Light ou The Silence, além de um sample de Winter Light na faixa You May Emerge From This More Dead Than Alive, são apenas alguns dos resquícios deste universo Bergmaniano na música de Hammock. As três primeiras faixas mencionadas são alusões a filmes do realizador, enquanto que a quarta música recorre a um sample de um dos seus filmes.
Os resultados traduzem-se num universo paralelo ao nosso, muito mais emocional do que físico. E apesar de ‘emocional’ ser provavelmente o termo mais apropriado para descrever esta experiência Kenotic, é nosso dever distanciar essa tag dos clichés mais banais e baratos que assombram alguma da música mainstream que nos invade os ouvidos diariamente. A razão prende-se ao facto de ser fácil, demasiado fácil, apelidarmos de ‘tristonha’ a música de Hammock – é música para solitários, banda sonora para sonhadores contemplativos, vício para nostálgicos compulsivos. Mas não seremos todos nós, mesmo que uns o sejam menos ocasionalmente do que outros, assim?
Bem, talvez não. O que poderia explicar o porquê deste duo não gozar de maior popularidade. E ainda que tenha surgido meio por ‘carolice’ dos dois músicos, há charme na música de Hammock. Um charme que só poderá estar ao alcance desses poucos sonhadores compulsivos. Mas já Guerra Junqueiro dizia que ‘as coisas mais raras são as mais preciosas’. Quem sabe estivesse certo. |Lauro Lopes
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