Se ‘Rock’ e ‘Noir’ são duas palavras distintas, combinadas resultam num termo bastante sugestivo. Só que existe um senão: ‘rock noir’ não é propriamente um estilo musical, pelo menos não daqueles que possamos identificar de imediato. Não existe um género musical definido, nem um estilo, nem uma forma de o tocar. E isso poderá causar alguma confusão, quem sabe até mesmo desiludir, aqueles que procuram rótulos confortáveis para a música que ouvem. Se olharmos para o cinema, por outro lado, tudo passará a fazer um pouco mais de sentido.
O que nos traz a Elysian Fields, um glamouroso nome que poderia muito bem ser o de um carismático bar em Brooklyn, Nova Iorque, algures entre os anos 30 e 50. É que tem tudo para ser considerado uma fórmula: a voz de Jennifer Charles, que transpira sensualidade e ares de ‘femme fatale’; a atmosfera invocada pelo multi-instrumentalista Oren Bloedow, que nos recorda aqueles carismáticos anti-heróis que ganham a vida solitariamente a tocar em bares nocturnos. Faltam apenas os gangsters à antiga e, talvez, um bom whisky.
‘Bum Raps & Love Taps’, o quarto disco do duo, é um álbum que deambula entre paisagens que roçam não só o rock, mas também o blues, o folk, o psicadélico e – em muitas ocasiões, até – o ‘art rock’ independente, resultando numa combinação musical muito cinematográfica. Experimentem, por exemplo, ouvir a ‘When’ sem se perderem num salão escuro, completamente enevoado pelo fumo do tabaco alheio. Ou a faixa-título, ‘Bum Raps & Love Taps’, que nos transporta para um cenário ainda mais intimista.
Mas nem tudo em ‘Bum Raps & Love Taps’ é cinzento ou escuro. Na verdade este é um disco que começa de uma forma bastante light, talvez até mesmo solarenga, com ‘Lions in the storm’. Ainda que profundamente nostálgica. E claro, nunca poderíamos deixar de referir ‘Duel with Cudgels’, aquela que é provavelmente a música mais épica – e talvez psicadélica – deste disco.
Com tudo isto, existem apenas duas certezas no universo após uma sessão com este trabalho: se uma delas é a inevitabilidade da morte, a outra será a paixão platónica que Jennifer Charles irá despertar em nós. E quem diria? Há uma estranha simplicidade em todo este requinte. E o melhor é que só mesmo muito dificilmente acabaremos uma sessão de ‘Bum Raps & Love Taps’ com uma pedra atada aos pés, no fundo de algum rio poluído. Não façamos por isso, por favor. |Lauro Lopes
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